O anúncio de que o estado do Amapá vai destinar R$ 10 milhões à escola de samba Mangueira para o enredo do Carnaval de 2026 gerou grande movimento no debate público. O valor expressivo evidencia que a decisão ultrapassa o campo da cultura e alcança dimensões políticas relevantes. A articulação entre figuras influentes, como Davi Alcolumbre e Marcelo Freixo, mostra que o apoio cultural também pode ter função estratégica na construção de visibilidade e fortalecimento de alianças.
A justificativa do governo do Amapá é que o enredo escolhido homenageará o estado por meio da figura de Mestre Sacaca, um personagem emblemático da história amapaense. Para a gestão estadual, essa é uma oportunidade de promover símbolos culturais, ampliar o reconhecimento nacional da identidade local e posicionar o Amapá em destaque durante o maior evento cultural do país. O governo trata esse investimento como uma forma de conectar tradição, turismo e desenvolvimento.
O papel de Alcolumbre e Freixo na aproximação entre governo e escola de samba chamou atenção nos bastidores. Freixo, envolvido com o universo das escolas cariocas, teria motivado a escolha do tema ligado ao Amapá, enquanto Alcolumbre atuou como ponte política e institucional para viabilizar o acordo. Mesmo que ambos afirmem não ter participado da negociação financeira, a influência de suas posições públicas impulsionou o avanço da parceria.
Do ponto de vista administrativo, parte do repasse já foi executada, demonstrando que não se trata apenas de anúncio formal, mas de um compromisso financeiro concreto. A assinatura do termo de fomento pela secretaria estadual de Cultura reforça o caráter oficial da decisão e mostra que o investimento já está em andamento. Isso indica que o governo acompanha de perto o desenvolvimento do enredo e sua execução até o desfile.
A aposta no Carnaval como estratégia de fortalecimento turístico faz parte de um movimento cada vez mais comum entre estados brasileiros. O Amapá busca destaque através da narrativa cultural, apostando na visibilidade que a Mangueira tradicionalmente alcança. A abordagem pretende valorizar a Amazônia negra, dar protagonismo a elementos simbólicos da região e ampliar o interesse de viajantes, pesquisadores e apreciadores de cultura popular.
Apesar disso, a iniciativa não está isenta de críticas. Há observações sobre o volume de recursos destinados a uma escola de samba do Rio de Janeiro, especialmente quando o estado enfrenta desafios estruturais. Parte da sociedade questiona se essa prioridade orçamentária atende às necessidades mais urgentes da população, levantando reflexões sobre equilíbrio fiscal, políticas sociais e transparência na aplicação de verbas culturais.
Essa discussão abre espaço para um debate amplo sobre o papel da cultura no desenvolvimento regional. Incentivos culturais podem gerar benefícios econômicos e sociais, mas exigem planejamento cuidadoso para que não se transformem em ações isoladas ou desconectadas da realidade local. O desafio é encontrar o ponto em que arte, identidade e responsabilidade pública se cruzam de maneira equilibrada.
No final, o repasse de R$ 10 milhões do Amapá para a Mangueira simboliza uma decisão carregada de impacto político, cultural e econômico. A sociedade observa os próximos passos com atenção, buscando entender se o investimento produzirá frutos duradouros. O desfile poderá funcionar como vitrine para o estado, mas será o resultado a longo prazo que determinará se essa estratégia realmente fortalecerá o Amapá e sua presença no cenário nacional.
Autor: Luvox Pherys
